terça-feira, 21 de outubro de 2008

O olhar de cada um

Na fotografia o presente, o passado e o futuro andam juntos.

Falar em fotografia é falar em luz, escrita da luz, melhor dizendo; foi assim que comecei a ensinar a adolescentes da SOAFAMC, curiosos pela nova linguagem.
Lembro das suas faces admiradas pelo novo estilo de ver o mundo de outra forma, pois a fotografia é uma escolha de vida e, sobretudo, a escolha de um olhar próprio. Pode ser a busca pela sua identidade, seu lugar, o lugar do outro.
Recordo ainda, que no primeiro dia de aula, expliquei para eles que íamos fotografar algumas manifestações culturais, através de crenças, comportamentos, atividades artísticas, intelectuais, adquiridas espontaneamente ao longo do tempo, as quais são peculiares ao lugar e as pessoas.
Fomos documentar as manifestações de tradição oral, ou seja, reisados, lapinhas, coco, o cotidiano de grupos que deixam um legado histórico-cultural à nossa e as futuras gerações.
Juntos, elaboramos formas e fórmulas que garantissem resultados, os quais fossem entendidos por todas (os) na hora de fotografar, através do mundo digital, a tradição oral, suas danças, seus estilos, suas roupas, enfim, um complexo de cores que desnudaram o olhar de cada um.
Fiquei perplexa ao perceber os resultados das fotografias, pela beleza e profunda vontade que esses adolescentes tinham em mostrar para eles mesmos o que o olhar pode captar através da luz, uma captura de instantes, a que a fotografia se destina, através de uma simples câmera digital.
Ajustar a luz, o foco, buscar a precisão, tornar a visão como um tiro ao alvo foi para elas (es) tarefa fácil de realizar, talvez pela afinação de longas conversas sobre fotografia, ou pela exposição de fotos minhas e de outras (os) fotógrafas (os), ou por mera vontade, intrínseca a cada adolescente, de deixar também seu legado, um recorte do real.
A cada aula uma conversa, a cada foto uma crítica, a cada olhar um elogio pela busca da magia da visão, a cada atitude de erro um desafio, a cada pergunta uma resposta à altura, a cada modo de ver um encontro com o diferente, enfim, uma escolha sem volta, sem arrependimento, mas com muita alegria a cada viagem, a cada visita.
Nesse instante, a fotografia, que era pessoal, torna-se histórica para a memória coletiva, o registro de um tempo que não volta mais, o que era futuro tornou-se presente e agora é passado.
Assim nasce uma fotografia, com a intenção de ela própria dizer, o que só ela pode contar sobre um dia, um lugar, um contexto histórico, pessoal e real.

Nívia Uchôa
Fotógrafa e Facilitadora do Curso de Fotografia “Clic na Cultura”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nívia, acho que vc definiu muito bem a linguagem da fotografia. E aí eu fiquei me perguntando: a imagem é da luz que vem de fora do olhar de quem fotografa em comunhão com a luz que vem de dentro desse ser que fotografa? Bjs

Nívia Uchôa

Minha foto
Juazeiro do Norte, Cariri - Ceará, Brazil
Fotógrafa free lancer em jornais, revistas, livros, ONG, OSCIP, publicidade, arquivo de imagens, autoral, documental, outros. (88) 9. 9612.7485 e (88) 9.8855.2267

Água prá que te quero!

A Água representa a mais concreta e completa existência da humanidade.
A Água é primordial em nossas vidas, ela nos traz vida e nos reserva vida.
Essas fotos representam um pouco como a humanidade se utiliza da água para sobreviver.